sábado, 19 de março de 2011

(Matar o vicio) Terapia diária anti-recaídas.

Texto em remodelação (tipo governo)...


Tomei uma atitude e fiquei com uma empreitada enorme em mãos, que jamais conseguiria levar a bom porto se não largasse o teclado e a caneta. É que estou a tentar deixar de fumar, e escrever provoca-me uma enorme vontade de acender um cigarrito, como se o fumo me clareasse a mente, ou a nicotina estivesse ligada por wi-fi ao pc. Assim sendo, resolvi ultrapassar mais uma etapa: serei capaz de me sentar em frente à máquina, sem necessidade da pausa para restabelecer os níveis de nicotina, alcatrão e  afins?
Acredito que sim, por isso aqui estou, a tentar acabar com o vício antes que ele acabe comigo. Sei bem que ao longo dos últimos anos tem sido essa a sua intenção - acabar comigo com a ilusão de um prazer que, bem vistas as coisas, acaba por ser real.
Já tinha tentado antes - de uma vez só, estive três anos sem o satisfazer - mas acabei por ter recaídas sucessivas, e já me faltava o incentivo para enfrentar um desafio que se agiganta como uma barreira que cresce, e que a cada dia fica mais difícil de transpor.
No seguimento desta análise, tenho-me perguntado porque cedo, porque não consigo resistir a essa sedução. Não encontro resposta. Para além da necessidade física e da ilusão psicológica, não existem outras respostas. Assim sendo, concluo que a causa da cedência reside na minha própria fraqueza, na subserviência, na falta de motivação. Como vim a descobrir, até a mais obstinada falta de vontade pode ser incentivada...

Acasos que "espevitam"...

1º -  J. G.

Alguns dias atrás fui buscar o meu filho à escola. Chegado lá, saí do carro e  fumei o meu Filtro junto ao portão de acesso. Entrei  e fui directo ao ATL. Assim que o vi, abracei-me a ele, e ia dar-lhe um beijo (ou dois, ou três...)., mas o "sacaninha" afastou-me...
- Tens um cheiro esquisito, pai. - diz-me ele de olho franzido.
- Cheiro a tabaco, filho...
- Cheira mal.
Doeu-me ouvir aquilo, não por ele o ter dito, mas por eu saber que era verdade. O meu hálito de  fumador compulsivo era indisfarçável, e se para um fumador o cheiro é tolerável, para um não-fumador é pouco menos que fétido. Aquilo mexeu comigo, tanto que tomei a decisão de não fumar antes de o ir buscar.

2º - S.
O dia ainda não tinha terminado, e depois de deixar o pirralho em casa da mãe, resolvi ir beber café a um bar aqui perto. Mal entro vejo uma pessoa que não via à séculos. Cumprimentei-a  e acabei por ficar com ela. O tempo passou ápice, e a distância entre nós estreitava-se - isto parece acontecer sempre que a vejo, o que acontece de ano a ano. Quando já se encetavam as despedidas, diz-me:
- Sabes, tens de pensar em largar os cigarros. Estamos aqui à pouco mais de uma hora e tens o cinzeiro cheio de beatas. Para além de te fazer mal, ficas com os dentes amarelos e um hálito péssimo.
- Tens razão... - respondi-lhe quase sem "ouvir" o que me dizia.
Continuámos a conversar e eu fumei o resto dos cigarros que tinha no maço, perfeitamente indiferente ao que me dissera. Entretanto levantei-me que a hora de ir chegara. Tencionava despedir-me com dois beijos, mas ela recusou.
- Só te volto a dar um beijo quando deixares de fumar, e olha que gosto dos teus beijos...
- Estás a gozar comigo...
- Não, não estou.
Ainda desconfiado da seriedade das suas palavras, armei-me do meu olhar de sedutor e declamei-lhe a cantiga do bandido, com resultado nulo. 
- Adoro quando olhas assim para mim, e as tuas falinhas mansas, mas já te disse: não há beijos enquanto houverem cigarros.
Acabei por vir embora sem os beijos que tanto queria... mas fui comprar logo outro maço, e ainda fumei uns quantos em casa, à janela, contemplando o céu estrelado, enquanto pensava nos beijos e nos cigarros.
Tanto pensei naqueles dois acasos, que cheguei a uma conclusão: gosto muito mais de beijos do que de cigarros. Não quero o meu filho a evitar-me por causa do cheiro entranhado na roupa e na pele e no hálito, e não quero perder aqueles beijos. Nessa noite tomei duas decisões importantes. A primeira foi sair para comprar mais dois maços de tabaco e fumar enquanto fosse capaz, o mais que conseguisse. A segunda foi que, acabando esses cigarros, nunca mais voltaria a fumar.
Já passaram uns dias - não sei quantos que não os estou a contar - e continuo sem fumar. O meu pirralho já quer beijinhos, e ela também.
Uma coisa engraçada é que agora a comida me sabe melhor, tanto que não consigo deixar de comer. E não falo em pastilhas nem rebuçados, falo em comida de gente: carne, peixe, legumes, arroz, massa, seja o que for, desde que seja muito!!!
É bem verdade que a ansiedade se apodera de mim com frequência, mas resisto-lhe, comendo até "rebentar".

Até ver, deixei de fumar, falta saber até quando...

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