Um denso nevoeiro invade a casa de banho. Limpa o espelho em busca de si própria. Olhos bem abertos, sorriso rasgado. Sente-se bem, está feliz. Pequenos fios de água tombam, aos solavancos, pela sua pele, descrevendo cada curva sua, como se a desenhassem por entre a neblina que preenche o ar. Contempla o seu próprio corpo com prazer. A imagem reflectida no espelho faz-lhe jus, é linda, realmente linda. Os seus olhos, o seu peito, o ventre liso onde um pequeno piercing se esconde, logo acima do umbigo, tudo nela é belo. É assim que se vê, bela.
Ainda nua, pega na toalha e seca-se bem. Gosta desse toque, da toalha, que a seca e lhe aquece a pele. A sua própria beleza, o roçar da toalha que desliza por ela, despertam uma sensação de prazer que deseja prolongar. Demora-se nesse ritual, nessa carícia. Nem sabe por que o faz, talvez levada pelo calor húmido do tecido que se funde com o desejo que a toma. Deixa-se levar, apenas pelo gozo de se amar a si própria. Gosta de si, gosta da sua pele, dos seus olhos ardentes de desejo. Deixa que as mãos acariciem o seu corpo desnudo, o peito, o ventre, as coxas, até se esconderem entre as pernas. Vê o rosto reflectido ruborizar, o rosto que é o seu, e entrega-se ao prazer. A visão de si própria em êxtase leva-a ao delírio. Cerra os olhos e imagina outras mãos a tocarem-lhe, outro rosto em frente ao seu, outro sabor nos seus lábios. O desejo fá-la explodir num prolongado gemido. Abre os olhos por fim, ecoa ainda dentro dela a sinfonia do prazer. A pulsação desacelera gradualmente, deixa de tremer, os seus olhos retomam a serenidade que, por breves momentos, o desejo agitou.
Retorna à insensatez da normalidade, ao entorpecimento do quotidiano. Por agora saciou desejo. Sente-se exausta, quer descansar. O robe e as pantufas de lã levam-na à cama, onde os lençóis acolhem a sua nudez no conforto do seu aconchego. Fecha os olhos enquanto espera pelo sono. Não está habituada a deitar-se só, sente a sua falta, mas o prazer da solidão reconforta-a, pelo menos até acordar. Vai sonhar com ele, com a maneira carinhosa como a acorda, com um beijo na ponta do nariz, com a mão a deslizar na sua cara como se fosse seda. Adormece com o um sorriso nos lábios, sabe que é só esta noite que passará sozinha. Amanhã, ao final do dia, ele estará de volta aos seus braços, aos seus beijos. O calor do seu corpo vai aquecê-la, o toque da sua pele vai incendiá-la, a cama não estará vazia.
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