quinta-feira, 24 de março de 2011

Ponto de vista distante - Resumo político

Não presto atenção aos detalhes da política, interessam-me sobretudo os assuntos mais visíveis. Assim, vi o discurso do PM com muita curiosidade, e enquanto ouvia aquelas lamurias todas, deixei de ouvir e fiz um breve apanhado das "jogadas" que ditaram a queda do regime.

Desde as eleições que o peso da minoria governativa vinha turvando o discernimento do Governo, e esse "peso" foi, em boa parte, obra de uma oposição tenaz. Gostei da atitude demonstrada, acicatada pelo discurso de tomada de posse do PR. Se estavam a castigar o Governo, desde então lançaram-se à luta com fervor e persistência, sedentos de sangue. Um belíssimo "trabalho de desgaste", como um pugilista preparando o golpe final, o "knockout". Assistimos a momentos de guerrilha, mas, mais do que isso, assistimos a uma revolta palaciana, versão século XXI.



O discurso do PR foi um voto de confiança em PPC, e, não menos importante, o último "aviso" a JS.
JS, numa arrogância inqualificável, fez o "arranjinho" em Bruxelas, e largou-o sobre Portugal como um dado adquirido. A prepotência da atitude foi digna de um ditador, e neste contexto, ao PR bastou-lhe o silêncio para impor uma nova ordem. Este foi o apogeu de uma brilhante estratégia perante um adversário encantador, mas fraco.

JS, incapaz de ceder, incapaz de humildade, optou pelo suicídio político. JS acreditou que estava a fazer o melhor por Portugal, mas ainda não tinha entendido que o projecto dele não é o projecto de Portugal. O seu rosto, hoje, enquanto falava à nação, era o de um homem que vê o seu projecto ruir, e não acredita no que os seus olhos estão a ver. A JS sobra-lhe em ilusão o que lhe falta em visão e razão.
Dois homens, JS e o PR, numa batalha de David contra Golias. JS não previu as consequências dos seus actos, qual teenager inconsciente. Enfrentou o PR sem ter a noção da diferença de poder entre ambos: é que o PR pode despedir o JS, e o JS não pode despedir o PR. Isso faz toda a diferença.

E assim se revolucionou Portugal. Sem sangue, sem mortos, sem feridos. Civilizadamente. Agora falta a parte difícil do caminho: negociar e credibilizar a nossa imagem. Não sei como o vão fazer, mas há duas condicionantes para a negociação:
1ª Aqui, quem manda somos nós. Portugal é dos Portugueses;
2ª Precisamos de ajuda, rapidamente.
Encontramo-nos, de momento, divididos entre o orgulho e a necessidade. Não podemos perder nenhum dos dois. A melhor opção é negociar uma solução estratégica que nos permita honrar os nossos compromissos sem comprometer o nosso presente e futuro. Que se imponham regras rigorosas, impostos justos, gastos justos, vencimentos equilibrados. É necessário, mas não em excesso, que já estão a abusar.

Há actualmente quem considere que Portugal está num ponto de quase-ruptura, à beira da falência. Há quem preveja o fim do mundo. Anda tudo numa aflição tal, que parecem aqueles "bandos" de mulheres histéricas, aos gritos, nos filmes série "B". Pois eu acredito que estamos a viver um momento decisivo, o momento para dar um impulso enorme ao nosso país e ás nossas capacidades empreendedoras aquém e além fronteiras. Acredito que a nossa fraqueza é o nosso trunfo para nos tornarmos na maior força estratégica da Europa. E não é dificil entender o porquê desta afirmação.

Se Portugal cair, a Europa segue-lhe de arrasto. Essa é a chave de qualquer negociação. Nós não estamos em desvantagem, nós somos o Ás num Royal Flush com A, R, D, V e 10 de copas que a Europa tem perante o resto do mundo. Com uma visão lógica e racional, deixamos cair o 2º aeroporto, este que temos chega muito bem, e não precisamos de outra ponte sobre o Tejo sequer - são obras importantes, mas não urgentes. O que precisamos é de uma linha férrea moderna, eficiente e veloz, construída a pensar no transporte de bens e mercadorias, que ligue os nossos portos marítimos à ferrovia da vizinha Espanha. E equipar os nossos portos e estaleiros navais com tecnologia e soluções de logística, com o objectivo de alargar a rede até cobrir toda a Europa, em proveito de todos. Não é isso que se pretende?
Nós somos o acesso natural à Europa por via marítima: em frente a nós estão as Américas, a sul de nós, África. De que mais precisamos? O que podemos dar à Europa é muito mais do que nos custa construir uma rede de transportes terrestres e reconstruir a nossa indústria naval, porque estes dois equipamentos, juntamente com os outros que já temos e a nossa posição geográfica, são uma mais valia tremenda para o resto da União Europeia e da Europa.

O Japão, para recuperar, precisa, a curto/médio prazo, de parceiros para voltar a dinamizar a sua indústria, e nós, com as nossas grandes obras, seremos os parceiros perfeitos para a implantação de tecnologias de ponta, e com isso estabeleceremos um novo parceiro, com vasta experiência e Know-how no sector marítimo e ferroviário. Em resultado desse projecto, o Japão terá acesso à Europa com o mínimo de custos, tal como nós ao Japão. Quanto ás Américas e a África, esses nem se questiona o quanto lhes seria rentável evitar os custos de uns milhares de milhas náuticas. Além de que partilhamos com esses continentes a língua e um entendimento cultural.


Estes têm de ser os nossos argumentos. Esta crise terá de ser suportada pela União Europeia, e ainda terão de investir em Portugal. Em troca terão eficiência, evolução, e três dos maiores mercados do mundo às portas da Europa.Só têm a ganhar, e nós também. Toda a Europa será beneficiada, e recuperaremos o nosso mar.


Neste momento, cabe-nos negociar com a consciência da nossa importância, com a convicção da validade dos nossos argumentos. Porque não são os € que contam, é o potencial para os multiplicar. Nós precisamos tanto da Europa como ela de nós. E foi este o momento que a história guardou para que Portugal voltasse a erguer bem alto a sua voz. É a partir desta ideia que nós vamos evoluir, é a partir desta ideia que estamos a evoluir. É necessário realizá-la para evoluir de facto. Portugal (a União Europeia) está à beira de um avanço significativo em direcção ao sonho Europeu de uma sociedade Justa, Igualitária e Fraterna. A Europa tem nas mãos a hipótese de mudar o mundo, e nós somos o catalisador dessa mudança. Façamos a revolução intelectual, sem armas nem guerras nem gritos nem confrontos. Com atitude, com argumentos, com razão e com dedicação. Porque queremos mais, porque queremos melhor.




E pronto, chega de divagações políticas, que deste assunto entendo pouco.

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