Por causa de uma música, de um poema que me fez reflectir sobre o dia de hoje.
Foi um daqueles dias em que nada de extraordinário aconteceu. Apenas as rotinas quotidianas, nada de mais: cumprimentar a vizinha carrancuda, ir para o trabalho, falar de trabalho o dia inteiro, sair, chegar a casa, e ocupar o sofá - perfeito, dirão alguns. E dou por mim a pensar no vazio que ficou por preencher neste dia vulgar, tão banal.
"Sempre o mesmo gesto, sempre o mesmo olhar
Sempre os mesmos passos, sempre o mesmo não estar
Sempre o mesmo estado, sempre o mesmo perder
Sempre o mesmo lado, sempre o mesmo dizer
Sempre estar em grande, sempre o mundo a topar
Sempre os mesmos corpos, tudo a rastejar
Sempre a mesma estrada, sempre o mesmo nada
Sempre os mesmos ratos, sempre os camaleões
Sempre o mesmo fumo, sempre as ocasiões
Sempre o mesmo encontrar, pensar, deixar p'ra trás
(talvez amanhã pense outra vez)
Sempre a mesma noite, sempre o mesmo estar bem
Sempre o mesmo engate, sempre o mesmo ninguém
Sempre a mesma falta de cor e de humor
(p'ra parar e gritar)
Ahhhh
Tenho fome de mais!
Ahhhh
Quero fome de mais!
Sempre as mesmas vozes, sempre as mesmas canções
Sempre o mesmo filme, sempre as mesmas razões
Sempre as mesmas armas, sempre o mesmo esquivar
Sempre o mesmo jogo, sempre o nunca lutar
Sempre as mesmas flores, sempre o mesmo jardim
Sempre as mesmas roupas a cheirar a jasmim
Sempre a mesma calma, sempre o mesmo
Sempre a falta de luz e os pés no chão
Sempre o mesmo tecto, sempre o mesmo medo
Sempre o mesmo não ser, sempre o mesmo parecer
Só cheiro o mundo a andar p'ra trás
E sempre a mesma gente a ficar p'ra trás
Que aparecem e acontecem
Esquecem que no fundo ninguém sabe o que faz
Ahhhh
Tenho fome de mais!
Ahhhh
Quero fome de mais!
Sempre a mesma vida encalhada nesse sempre
Sempre a mesma vida encalhada nesse sempre
Sempre a mesma vida encalhada nesse sempre
Sempre a mesma vida encalhada nesse sempre
Ahhhh
Fome de mais!"
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Letra de Tiago Bettencourt
música de Toranja
(2001)
Admiráveis Toranja. *
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